Escolho ser Feliz
Eu não invejo as tuas viagens pelo mundo. Eu não invejo os continentes que visitaste, nem o chão que pisaste....não invejo as cascatas em que mergulhaste, as viagens de balão. Nada. Não invejo os povos que conheceste, as línguas que ouviste. Os postais e as fotografias que me mostras despertam me curiosidade, sim. Mas não me levantam um pelo do braço. Nada.
O que eu invejo mesmo e quem se apaixona pelo normal, pelo simples. Quem encontra um pouso e deixa de ter sede de outros braços, de outros beijos. Isso sim. Aqueles que aceitam a aventura de acordar todos os dias com a mesma pessoa.
Essas sim são as imagens que me param o coração. Eu não preciso da Amazônia, da torre Eiffel, do pão de açúcar. Não há nada que mais me fascine do que ver alguém continuamente apaixonado pela dança diária da rotina. Pelas torradas a mesma hora, pelo passar do leite, pelo beijo de despedida todas as manhãs. O que me fascina são as pessoas que assistem ao mesmo espectáculo todos os dias, da primeira fila e aplaudem até não haver mais luz. E no dia seguinte estão lá outra vez a assistir aos mesmos passos, e a esperar ansiosamente por um final que já conhecem mas nunca os cansa.
Eu não me arrepio mais com experiências, eu arrepio me com testemunhos. Eu arrepio me com quem tem uma testemunha, um escudo e uma almofada, um berço e um foguetão.
As tuas viagens pelo mundo não são nada perto do desafio que é amar continua e inteiramente a mesma pessoa.
Conhecer lhe as fraquezas e as rugas, vê-la crescer e por vezes murchar e ainda assim acender o fogo todos os dias.
As imagens com que adormeço são só essas.
O que invejo é quem vive a calma dos dias, quem se afasta do abismo de viver na corda bamba, quem não precisa do perigo. O que me fascina e quem não desiste.
Não me mostres o cume do Evereste, eu mostro te uma fotografia dos meus avós, casados ha 57 anos, esse e o cume mais alto do mundo. E ninguém diga que existe aventura maior do que essa.
Eu quero uma família, e quero tirar fotografias em todos os cantos da casa. E que ninguém me diga que isto não é dar a volta ao mundo.